quinta-feira, 10 de junho de 2010

Por homens e paredes: o conhecimento que queremos

Os homens falam:

“Vocês fazem parte da elite intelectual desse país.”

(Em uma palestra na XLVIII Semana Jurídica da UEL)

E as paredes também:

“Para que(m) serve o teu conhecimento?”

(Restaurante Universitário – Universidade Federal de Santa Maria)

conhecimento

Formamos a elite do intelecto (gargalhada sarcástica). Como assim? Qual o sentido do vocábulo elite nessa frase? Por que se for para entendê-lo como uma qualificação de um grupo seleto de pessoas que pressupõem superioridade sobre outras e fazem disso um artifício de poder, exploração e alienação, desculpe-me, prefiro ser um proletário, um ser comum, à base da pirâmide social. Recuso-me a aceitar esse estereótipo de cunho vaidoso e arrogante, desde já. Porém essa é a menor das inquietações que tal fala me causa. Mais curioso é o que entender por intelectual e se essa frase do palestrante não intenta a formação de um conhecimento elitista(!). Por que o sentido que dou a intelectual é mais que o domínio de certos conhecimentos obtidos em manuais-mão-na-roda, é mais que códigos e leis e ordens ou literaturas-de-vampiros e ensinamentos acadêmicos sem nenhum senso crítico.

Onde tu colocas o sentido de todos esses ensinamentos acadêmicos? E o outro que co-existe contigo, tu tens consciência do teu papel na vida dele? E o espelho? Teu conhecimento visa ao belo? Tudo bem, e quando tu te deparas com o não-belo, o que tu fazes? Simplesmente desvias o olhar, por não suportares enfrentar a realidade? Ah, tudo bem, teu conhecimento te diz que tu não podes fazer nada para melhorar o não-belo. É simples, continua desviando o olhar e fingindo que não existe nada além daquilo que te causa prazer e bem estar e assim tu manténs o custoso status quo.

Não me fiz claro o suficiente ainda? Ok, o que eu falo aqui é sobre Ser Humano, meu bem. É sobre cultuar um conhecimento capaz de se sensibilizar com a dor e a condição de incapacidade do outro. Ah, desculpe-me, te ensinaram a ser racional. Ok, se assim preferes, usa a tua racionalidade e guia teus atos segundo uma moral mais humana, menos instrumental e mecânica. Usa o teu conhecimento para se fazer Humano, por que apenas quando tu possibilitares a outros capacidades para serem Humanos é que serás de todo digno de assim ser chamado. E quando te perguntarem para que(m) serve o teu conhecimento, tu poderás dizer que serve ao Ser Humano.

Ao som de "Somos quem podem ser" de Engenheiros do Hawaii

"[...] um dia me disseram que as nuvens não eram de algodão sem querer eles me deram as chaves que abrem essa prisão."

2 comentários:

Alanna Coolerman disse...

Os velhos costumam dizer ao novos que eles são o futuro da nação, da humanidade. Esquecem de servirem de espelhos, de darem exemplos (que prestam). Os jovens, quando se tornam velhos, se perguntam por que tudo continua igual e sem se darem conta da resposta, passam o "lema", adiante.
Só uma pergunta: se nós somos a elite, quem é o proletariado?

Heron de Carvalho disse...

Well, well, well... Respondendo a tua pergunta, filha:
Há duas perspectivas, nesse caso, para dizer quem é quem no jogo do biexo. A primeira é se assumirmos que o conhecimento acadêmico, em sua maioria, é elitista. Daí Marx e mais um monte de gente já disse quem é o proletariado e tal. A segunda perspectiva é a de que não há elite intelectual nenhuma, isso é só mais um artifício para tornar maior o abismo conhecimento científico-conhecimento comum. Considero essa segunda perspectiva muito localizada ainda no dever-ser, visto que ela considera sempre o outro e é horizontal. Ao final ela acabaria fundamentada numa ética do discurso ou em qualquer ética emancipatória. Apesar da abstração, por motivos lógicos, racionais e passionais prefiro a segunda. ;)